Com a atual conjuntura econômica, fica cada vez mais complicada alguma possível modificação nas políticas monetária, cambial e fiscal no país.
Para um observador realista, porém, há muito por fazer.
A comparação da evolução da produtividade da economia brasileira nos últimos anos com a de outros países leva à constatação de que o Brasil apresenta níveis típicos de país emergente (baixos) e taxas de crescimento de país desenvolvido (também baixas). Para muitos, o vilão dessa história é o quadro de virtual pleno-emprego que se instaurou no mercado de trabalho, agravado pelas usuais deficiências da educação e da qualificação do trabalho no país.
Porém, infelizmente, no Brasil a produtividade ainda está no posto de trabalho e não no trabalhador. No mercado de trabalho brasileiro ainda prepondera um segmento informal urbano de grandes proporções, um contingente volumoso de subocupados no mercado formal e rendimentos do trabalho que, embora crescentes, ainda são em média muito baixos, todas evidências pouco compatíveis com uma situação de pleno emprego. Por essa razão, há muito espaço para aumentar a produtividade deslocando trabalhadores de ocupações de baixa produtividade para outras mais produtivas. Para isso, no entanto, é necessária a realização de investimentos que abram essas novas oportunidades de trabalho. Há, portanto, boas razões para se acreditar que a explicação central para o comportamento indesejável da produtividade está na insuficiência da formação de capital na economia brasileira.
No entanto, essa não é uma reação automática. Existem boas razões teóricas e excelentes razões empíricas para se acreditar que o principal fator determinante das decisões privadas de investir é o grau de utilização da capacidade instalada. As empresas decidem investir quando o grau de utilização da capacidade de longo prazo ultrapassa um valor limite planejado. Ocorre que esse grau planejado de utilização é uma variável de difícil determinação devido a diversas razões objetivas mas principalmente porque é influenciado por mudanças subjetivas nas expectativas dos empresários quanto ao desempenho da demanda e também quanto ao comportamento dos concorrentes em seus mercados de atuação.
No Brasil, basta comparar as séries de formação de capital do IBGE com os indicadores do nível de utilização da capacidade instalada da Fundação Getúlio Vargas ou da Confederação Nacional da Indústria para atestar a elevada correspondência existente. Níveis de utilização de capacidade da ordem de 80%, como os que vêm vigorando no período recente, não costumam motivar ciclos relevantes de investimento. Em síntese, a produtividade sucede o investimento. E a esses sucede o crescimento. E assim, voltamos ao início.
Fonte: Valor Econômico