O Brasil está diante da oportunidade de se tornar líder mundial em química verde em 15 anos. O roteiro para que o país alcance esse objetivo está delineado num livro de 438 páginas chamado “Química Verde no Brasil – 2010/2030”, publicado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), cujos autores são 24 cientistas brasileiros, todos especialistas no assunto.
Essa mesma oportunidade está assinalada pelo Pacto Nacional da Indústria Química, publicado pela Abiquim em 2010: em 2020, pelas estimativas da entidade, pelo menos 10% da oferta atual de produtos petroquímicos estarão baseados em química verde. Para completar, em novembro a Bain & Company publicou o “Estudo do Potencial de Diversificação da Indústria Química Brasileira”, observando que só a química de biomassa tem um potencial de faturamento estimado entre R$ 15 bilhões e R$ 35 bilhões de reais para 2030. Embora não faltem números otimistas, a química verde ainda não é um programa de governo.
O químico Peter Seidl, da UFRJ, um dos autores do livro do CGEE, afirma que a química verde será uma excelente alternativa para melhorar a competitividade do setor: “Mas isso exige iniciativa do governo – só ele pode reunir todos os atores numa proposta consistente”, afirma. Ele lembra que um dos passos indicados no estudo é a implantação de uma instituição acadêmica dedicada ao tema: “Esse é meu trabalho, organizar a Escola Brasileira de Química Verde, onde formaremos pesquisadores e técnicos para esses projetos”, diz.
Vários países já estão adiantados no tema, observa o professor, como Suécia, Itália, Finlândia, mas nenhum tem o potencial do Brasil: “A China também está aparecendo com centros de química verde avançados. O Brasil tem água, terra, sol, biodiversidade, mas estava quase dormindo sobre esse potencial”, afirma Seidl.
O economista Mariano Laplane, presidente do CGEE, instituição supervisionada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, admite que os passos recomendados pelos cientistas, como a constituição da Rede Brasileira de Química Verde, ainda não foram tomados, embora considere que a química verde e a sustentabilidade estão presentes nas políticas de ciência e tecnologia em vigor no país: “O grande desafio agora é ir além da orientação de pesquisa e materializar a química verde como realização econômica”, comenta. Apesar desse descompasso, ele vê, no curto prazo, grandes oportunidades no país para a implantação de biorrefinarias: “Além daquelas que estão programadas para a exploração do etanol de segunda geração, que já estão bastante adiantadas, existem oportunidades nas atividades que são intensivas em energia e em biomassa”, assinala.
Ainda que a química verde seja um segmento emergente, e ainda sem estrutura industrial bem definida, a expectativa dos técnicos é de que em 2025 pelo menos 25% dos produtos químicos já sejam elaborados com insumos renováveis, diz Mariana Dória, gerente de tecnologia e inovação da Abiquim: “Em 2006, apenas 1% dos produtos químicos eram produzidos com matéria prima renovável. Em 2010, esse número já havia chegado a 10% segundo o Departamento de Agricultura dos EUA”, diz ela. Uma das dificuldades que o setor supera aos poucos para evoluir nessa direção é o fluxo de matérias primas: “A indústria química precisa de fluxo constante de matéria prima, mas isso não combina bem com a agricultura, que funciona no regime de safras”, diz Mariano.
Rodrigo Más, sócio da Bain & Company, conta que as expectativas em torno da química sustentável são muito grandes: “Fizemos um estudo que mapeou as possibilidades de diversificação da indústria, estudamos os principais segmentos da química e indicamos as oportunidades. Hoje a química verde já consegue viabilizar produtos que substituem os tradicionais. Olhamos essas cadeias de produção, e vimos uma série de oleoquímicos com base em óleo de palma, açúcar, sebo bovino, que já possuem condições de competir no mercado brasileiro”, diz. Outro exemplo é o aproveitamento de efluentes como o “licor negro”, que aparece na produção da celulose de pinus: “É possível extrair dele substâncias químicas utilizadas em perfurações para a indústria de petróleo e gás”.
Fonte: Valor Econômico / Por Paulo Brito