Nós brasileiros estamos nos últimos dois anos lendo e escutando, diariamente, na mídia brasileira que os Estados Unidos está retomando sua indústria com a “descoberta” do shale gas, o gás de xisto. E essa retomada será uma grande ameaça para a indústria brasileira, principalmente para as indústrias de petróleo, gás natural e química de nosso país. Temos que mudar o foco: essa “descoberta” da América poderá se reverter em uma importante oportunidade para nossas empresas, seus acionistas e seus empregados. Nós brasileiros é que temos que ter foco, foco nas oportunidades, não perdermos mais um tempo econômico precioso. Temos que minimizar riscos e potencializar oportunidades para nossas empresas industriais, de serviços de tecnologia, nessas áreas. Como fazer isso? Ao contrário de nos focarmos na ameaça do shale gas, temos que garantir que empresas brasileiras se aproximem de empresas americanas – lá nos Estados Unidos e aqui no Brasil, em nosso campo – para discutir acordos de cooperação comerciais e de tecnologia.
Primeiro, a “descoberta” do shale gas foi um investimento de anos das empresas privadas americanas em tecnologia de ponta, com conhecimento compartilhado na relação dessas empresas com universidades e centros de pesquisas. Não foi uma “descoberta”, foi um processo de inovação industrial, de acumulação tecnológica. E mais, os americanos foram rápidos em transformar essa oportunidade em riqueza econômica. Nesse mesmo tempo, o Brasil também “descobriu” uma riqueza, a do pré-sal. Que também não foi uma “descoberta”, foram anos de investimento em inovação e acumulação tecnológica pela Petrobras. Bem, como é comum no Brasil, não fizemos muito mais nas áreas de energia e química, pois sempre nos focamos em um grande desafio e negligenciamos os outros. Por vários motivos, sobretudo financeiro. Isso mesmo: não temos dinheiro para fazer tudo. E, com isso, sem buscar dinheiro lá fora, sem buscar parcerias com empresas globais, ficamos sem dinheiro para investir em tudo. Mesmo a gigante Petrobras teve que optar em investir no pré-sal ou construir, rapidamente, refinarias para fazer frente ao enorme consumo de gasolina para nossos automóveis. Investiu no pré-sal. Ano passado já tivemos um déficit de US$ 3 bilhões na conta-petróleo, pois importamos gasolina mais cara do que vendemos no Brasil. Mas já estamos dividindo os royalties (futuros) do petróleo para nossa educação e saúde. A conta não fecha.
Temos que mudar o foco. Temos que ser ágeis. Não podemos esperar uma resposta salvadora do pré-sal para todos os nossos problemas econômicos e sociais. Temos que gerar riqueza, temos que gerar impostos, temos que transferir esses impostos para a educação e a saúde. Mas não por decreto, e sim com muito trabalho, com empresas privadas brasileiras e internacionais. E com a Petrobras. Nossa Petrobras. O pré-sal é uma oportunidade, mas não é mais a única. O shale gas é outra oportunidade para empresas brasileiras. Nos Estados Unidos e no Brasil. Nossas empresas têm que ir lá. Temos que chamar as americanas aqui. Em exploração e produção, em distribuição, na área química e de plástico. No pré-sal e no shale gas. Na geopolítica energética do continente americano não seremos atores principais por decreto. O shale gas não será gás de xisto por decreto.
Fonte: MaxiQuim – Por João Luiz Zuñeda