O Brasil é caracterizado por pequenas ilhas de excelência em inovação, porém, sem a habilidade para escalar essa capacidade para uma economia mais ampla. Sem uma ação combinada entre as empresas locais, o País corre o risco de escorregar ainda mais no ranking global de inovação e competitividade econômica.
Para que o Brasil aproveite ao máximo seu potencial, três pontos devem ser priorizados. Primeiro, as empresas devem se engajar de forma muito mais profunda com oportunidades de inovação internacionais. Em segundo, devem construir relacionamentos e redes mais fortes para manter a natureza colaborativa da inovação global. E, em terceiro, assumir a liderança em inovação por meio do desenvolvimento de modelos comerciais inteligentes que capitalizem os pontos fortes do País e minimizem suas deficiências.
A inovação tornou-se o campo de batalha para a economia global, rica em informações. A própria natureza da inovação tornou-se mais colaborativa e digitalmente ativa. E onde é que o Brasil se situa nesse cenário?
O diagnóstico é complexo. O País tem mantido uma boa reputação em setores como biotecnologia, aeroespacial e de energia limpa. A agilidade natural foi construída conforme os líderes empresariais tiveram que se adaptar às décadas de volatilidade econômica. O espírito de empreendedorismo dos brasileiros é evidente, além do entusiasmo quanto às tecnologias disruptivas, que viabilizam a inovação mais rápida e rentável.
No entanto, a sétima maior economia do mundo ainda definha no 61º lugar do Índice Global de Inovação, elaborado pela Universidade de Cornell junto à escola de negócios Insead e à Organização Mundial da Propriedade Intelectual. O Brasil também é extremamente ineficaz em seus esforços para transformar insumos em inovação e pedidos de patentes em novos produtos, serviços e modelos de negócios.
Os brasileiros, em suma, não estão transformando suas vantagens inatas de inovação em iniciativas de categoria mundial. É preciso recuperar esse déficit partindo dos pontos que deixaram o País para trás: burocracia, atrasos relativos ao sistema de patentes ou a necessidade de capacitação e de atitudes favoráveis à inovação no sistema de ensino.
Para os líderes empresariais, uma deficiência grave do Brasil é o fraco envolvimento com os mercados internacionais. A maioria das empresas locais observa a expansão internacional sob a lente das grandes multinacionais presentes no País. Essas companhias cresceram para dominar seu mercado interno antes de usar essa escala para experimentar e crescer por outras bandas. Mas tudo isso ocorreu em uma era econômica distinta, quando os mercados estavam mais protegidos e a competição global ainda não havia intensificado a demanda por velocidade, eficiência e valor.
Hoje, as empresas não se dão ao luxo de esperar para alcançar uma posição dominante antes de olhar para o exterior, especialmente se pretendem manter uma margem de inovação. Na verdade, as empresas brasileiras agora têm que se aventurar no exterior para buscar as capacidades e tecnologias necessárias para crescer e competir de forma eficaz no Brasil, e muito menos para construir mercados no exterior.
As inovações que estão moldando os mercados de hoje e criando os de amanhã implicam a ideia de colaboração, aliança e outras conexões que atravessam as fronteiras da empresa. Esta abordagem oferece acesso a mais insights, a partir de diferentes lugares e em maior velocidade – fatores críticos no atual cenário disruptivo.
Felizmente, os brasileiros gostam de se conectar. A cultura do País é aberta e social, o que se traduz no mundo dos negócios. Relacionamentos e redes, juntamente com o uso das mídias sociais, são considerados como as mais importantes ferramentas para o crescimento comercial. A adoção da conectividade pelo Brasil – o País tem o terceiro maior número mundial de usuários do Facebook, muitos deles sendo pequenas empresas e startups – constitui um bem essencial na medida em que as redes, impulsionadas pela tecnologia, reformam o cenário global de inovação.
Mas isso não é suficiente. Dados do IBGE apontam que apenas 16,7% das empresas inovadoras do Brasil colaboram com outras organizações, colocando-as entre as menos colaborativas, segundo um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) com 30 países.
A inovação bem-sucedida depende cada vez mais da colaboração entre uma rede verdadeiramente ampla, que abrange consumidores, funcionários e até mesmo concorrentes. No entanto, apesar da propensão dos brasileiros para trabalhos em rede, um “déficit de confiança” pode ser, de fato, uma das principais desvantagens do País. Os brasileiros, ao que parece, estão relutantes em confiar uns nos outros; muito menos em estranhos.
O Brasil não consegue competir com os modelos de inovação de baixo custo da Ásia ou mesmo com os pontos fortes de inovação que distinguem a Índia, por exemplo. Por outro lado, pode alavancar modelos comerciais inovadores, projetados para conseguir mais com menos recursos. Entre eles, destacamos os projetos circulares que eliminam resíduos, dissociando o crescimento de recursos escassos. Este tipo de inovação inteligente do modelo de negócios promove os pontos fortes do País e minimiza a influência de suas fragilidades.
Neste sentido, as tecnologias digitais podem desempenhar um papel fundamental, trazendo eficiência e maximizando o valor que pode ser extraído a partir de ativos. Os brasileiros têm razões para estarem confiantes – suas empresas têm escolhido rapidamente modelos comerciais digitais. Com uma população ávida por soluções digitalmente habilitadas, as companhias brasileiras têm a oportunidade de estar na vanguarda do modelo de negócios inteligente.
(Valor Econômico – Artigo de Armen Ovanessoff, diretor do Institute for High Performance da Accenture)
Fonte: ANPEI