Um déficit de US$ 28 bilhões (2012) na balança comercial da indústria química acendeu o alerta para que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) encomendasse um estudo a fim de entender por que – apesar de um parque industrial de peso e um mercado consumidor relevante no cenário global – a indústria química brasileira não atende à crescente demanda por produtos no País, exigindo a importação de químicos. No final do ano passado, a consultoria Bain & Company compilou os resultados de uma ampla pesquisa que, além de uma análise sobre a cadeia de negócios, aponta saídas para a diversificação da produção nacional. “O estudo cria bases para uma discussão madura sobre a elaboração de uma política industrial para o setor. O Brasil tem condições de ser competitivo na indústria química”, ressalta Rodrigo Más, sócio da Bain & Company.
Em 2014, o déficit na balança comercial de químicos atingiu US$ 31,2 bilhões. Realizado em parceria com a Gas Energy, o estudo do potencial de diversificação da indústria química brasileira aponta dois fatores como os principais motivos da diferença entre exportações e importações. O primeiro é o descompasso entre o crescimento da produção nacional e a evolução do consumo doméstico. O segundo, o aumento do valor agregado das importações em relação às exportações de produtos químicos. “É curioso observar esse comportamento em um país com abundância de matéria-prima, mercado consumidor representativo e base industrial montada”, comenta Más.
A análise – que identificou e classificou 66 segmentos na indústria química – calcula que as oportunidades de investimentos em 21 segmentos (de foco primário) podem chegar a US$ 47 bilhões entre 2015 e 2030. Se realizados, os aportes nessas áreas serão capazes de reduzir o déficit anual da balança comercial de químicosem até US$ 38 bilhões em 15 anos, com potencial de geração de empregos superior a 19 mil novos postos de trabalho.
Entre os setores de foco primário estão o de defensivos agrícolas, derivados de petroquímicos, cosméticos, oleoquímicos, químicos utilizados em processos de exploração e produção de petróleo (E&P), aditivos para alimentação humana e químicos a base de matéria-prima renovável. “É preciso planejar a longo prazo e estabelecer ações para tornar a indústria química competitiva. O salto na produção exigirá visão estratégica”, destaca Más.
Entre os segmentos com melhores condições de competitividade, estão os com mercado forte no Brasil, como o de cosméticos e produtos de higiene pessoal, defensivos agrícolas, aditivos alimentícios para animais e químicos para E&P. A lista de setores atrativos também engloba negócios que agregam valor a matérias-primas locais disponíveis como o de aromas, sabores e fragrâncias; derivados de celulose e aditivos alimentícios para humanos. Rotas alternativas a partir de fontes renováveis (principalmente biomassa) podem incrementar o faturamento da indústria química, em 2030, entre US$ 15 e US$ 35 bilhões, segundo o estudo. “O mercado brasileiro tem crescido a taxas importantes, o que atrai o investidor. O salto produtivo vai acontecer com políticas públicas para atrair o capital”, resume Más.
Segundo ele, entre os desafios para ampliar a competitividade da indústria química brasileira, e atrair investimentos produtivos, está a implementação de políticas públicas para a produção de químicos a partir dos volumes de hidrocarbonetos (petróleo e gás natural) de propriedade da União. A sugestão trata diretamente do volume do Pré-sal, considerando os hidrocarbonetos que serão produzidos pelos campos sob contrato de partilha. “Precisamos garantir a matéria-prima para a indústria química. Hoje, o segmento compete com a geração de energia. O Pré-Sal é uma reserva estratégica e deve ser utilizado para gerar valor ao País”, explica.
A lista de ações para o Governo envolve ainda o aprimoramento do ambiente regulatório, incentivo a investimentos na produção local de químicos com base em matérias-primas derivadas da biomassa, melhorias da infraestrutura logística que suporta as cadeias produtivas da indústria química, fomento aos projetos de tecnologia e inovação ligados ao setor e a simplificação do sistema tributário. “Algumas ações são simples e trazem resultado quase que imediato”, diz Más.
Entre os exemplos, cita o segmento de defensivos agrícolas, em que a principal oportunidade está associada à melhoria da gestão da fila de registro de produtos. De acordo com o estudo, maior agilidade no processo de registros deve acarretar aumento na produção local de defensivos, um segmento que registrou déficit comercial de US$ 5 bilhões em 2012.
Fonte: Valor Econômico / PROTEC