Conforme adiantado na segunda semana de julho, a Bunge anunciou hoje (22) um acordo com a BP para constituição de uma joint venture que resultará na criação de uma líder em bioenergia. Cada empresa terá 50% de participação nos negócios de produção de açúcar e etanol da BP e da Bunge no Brasil.
A joint venture, que será chamada de BP Bunge Bioenergia, operará independentemente, com um total de 11 usinas localizadas nas regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste do Brasil.
A Bunge receberá pela operação o valor de US$ 775 milhões, com US$ 75 milhões oriundos da BP, sujeito a condições habituais de fechamento. Os outros US$ 700 milhões virão por meio de um empréstimo da nova empresa com bancos estrangeiros e nacionais. Segundo informações do Valor Econômico, dessa forma, a joint venture assume a dívida que a Bunge Açúcar e Bioenergia tem com sua controladora nos Estados Unidos.
A transferência da dívida deve oferencer um alívio ao balanço da companhia americana, uma vez que 17% de sua dívida de longo prazo (de US$ 4,2 bilhões no fim de 2018) está atrelada ao negócio de bioenergia no Brasil. Ao mesmo tempo, do faturamento de US$ 45 bilhões da Bunge, as usinas não representaram mais de 2%.
“Essa dívida coloca a nova empresa com uma das situações mais saudáveis do setor. Com uma dívida que é baixa, a gente vai ter flexibilidade futura para destinar o que faremos com a geração de caixa resultante”, declarou à Reuters o executivo da Bunge, Geovane Consul, que será o diretor executivo (CEO) da BP Bunge Bioenergia.
Por sua vez, conforme números do Valor, a receita total da BP em 2018 somou US$ 303 bilhões – e nem 1% saiu das usinas no Brasil. Ainda assim, o negócio é considerado relevante, pois há tempos o setor sucroenergético não vê transações deste porte.
Além disso, a companhia, que entra no novo negócio com três usinas e o investimento de US$ 75 milhões, terá uma ampliação de sua presença no setor, que até então somava uma moagem de 10 milhões de toneladas por safra. A Bunge, por sua vez, era dona de oito usinas e, agora, será sócia de 11 unidades, com 50% de participação.
A Bunge também informa que a joint venture operará independentemente. Assim, no fechamento da operação, a empresa não mais consolidará suas operações de açúcar e bioenergia no Brasil em suas demonstrações financeiras consolidadas.
A notícia foi bem recebida pelo mercado. De acordo com a Reuters, as ações da Bunge abriram em alta de mais de 3% em Nova York após o anúncio da joint venture, antes de reduzirem ganhos para cerca de 2%, enquanto as da BP subiram 0,7% em Londres.
A nova companhia
Com 32 milhões de toneladas de capacidade de moagem combinada por ano, a joint venture terá a flexibilidade de produzir um mix de etanol e açúcar, além de gerar eletricidade renovável a partir de bagaço de cana-de-açúcar, por meio de suas unidades de cogeração, para sustentar todas as suas unidades e vender a eletricidade excedente à rede elétrica brasileira.
Segundo comunicado da Bunge, os ativos dos dois grupos são “amplamente complementares”, com unidades em cinco estados brasileiros, incluindo três na região-chave de São Paulo. “O negócio combinado se tornará o segundo maior player da indústria no Brasil, em capacidade efetiva de moagem”, garante. Em capacidade instalada, porém, a companhia ficará atrás de Raízen (73 milhões de toneladas), Atvos (37 milhões de toneladas) e Biosev (33 milhões de toneladas).
Ainda de acordo com a empresa, o acordo deve dar continuidade à estratégia da Bunge de otimização de portfólio. “Essa parceria com a BP representa um marco importante no processo de otimização de portfólio da Bunge, o qual nos permitirá reduzir nossa atual exposição ao negócio de açúcar e bioenergia, fortalecer nosso balanço patrimonial e focar em nossas principais atividades”, disse o CEO global da Bunge Gregory A. Heckman. “Temos na BP um parceiro forte e comprometido, assim como flexibilidade no médio e longo prazos para monetização futura, com potencial de saída total via oferta pública inicial (IPO) ou outra rota estratégica”.
O diretor executivo da BP Alternative Energy, Dev Sanyal, também comemorou o acordo. “Biocombustíveis desempenham um papel fundamental na transição energética e o Brasil é líder no desenvolvimento desse setor em escala. Este importante passo permitirá à BP aumentar significativamente a escala, a eficiência e a flexibilidade de nosso negócio em um dos mercados de biocombustíveis que mais crescem no mundo”, afirma e complementa: “Com um compromisso conjunto com a segurança e a sustentabilidade, unir nossos ativos e experiência possibilitará melhorar o desempenho, desenvolver opções de crescimento e gerar valor real. A BP Bunge Bioenergia estará bem posicionada para apoiar a crescente demanda do Brasil por biocombustíveis e bioeletricidade de baixo carbono”.
Após a conclusão, o objetivo é que a BP Bunge Bioenergia gere “significativas sinergias operacionais e financeiras”, inclusive por meio de eficiências de escala e aplicação de melhores práticas, otimização de tecnologias e capacidades operacionais em todos os ativos do negócio.
A nova empresa deve ter sede em São Paulo. Mario Lindenhayn, da BP, será o presidente executivo e Geovane Consul, da Bunge, será o diretor executivo. A BP e a Bunge terão igual representação no Conselho de Administração.
Com informações adicionais do Valor Econômico e da Reuters; edição novaCana.com