O segmento de celulose solúvel e derivados, usados como insumo na indústria têxtil, farmacêutica, alimentícia e de cosméticos, tem potencial de atrair investimentos da ordem de US$ 2,2 bilhões no país no longo prazo. É o que indica um dos relatórios que compõem o estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), conduzido pelo consórcio formado pela Bain e Gas Energy, sobre o potencial da indústria química brasileira.
Esses investimentos seriam direcionados à ampliação da capacidade instalada no país, ao incremento das exportações e à fabricação de produtos de maior valor agregado, que hoje são importados e, em determinados casos, levam justamente matéria-prima brasileira.
Um dos reflexos da aposta em celulose solúvel, mostra o relatório, apareceria na balança comercial brasileira, com impacto que poderia variar entre US$ 1,1 bilhão a US$ 1,6 bilhão.
“O jogo é olhar cada um dos elos e tentar criar uma cadeia integrada para cada um dos ramos da celulose solúvel”, afirma Rodrigo Más, sócio da Bain & Company. A celulose solúvel pode ser usada, principalmente, na fabricação de fibra de viscose (indústria têxtil), de acetato de celulose (indústria de cigarros) e éteres de celulose (farmacêutica, alimentícia e cosméticos). Além disso, pode ser transformada em nitrocelulose (insumo para tintas especiais e explosivos) e em celulose microcristalina, cujo mercado se assemelha ao dos éteres.
Em todo o mundo, indica o relatório, 95% da celulose produzida – e o Brasil se destaca globalmente pela qualidade da fibra e custo de produção inferior – é usada na fabricação de papel e apenas 5% corresponde ao tipo solúvel. Ainda assim, esse último mercado movimentou US$ 5,5 bilhões em 2012, ou 5,8 milhões de toneladas. O Brasil ficou entre os cinco maiores produtores, com 466 mil toneladas, das quais 398 mil toneladas exportadas naquele ano.
Atualmente, o Brasil não produz a fibra de viscose porque o único produtor local, o grupo Vicunha, deixou o negócio em 2013, diante da forte concorrência com o produto importado. Ao mesmo tempo, o país é importante exportador de celulose solúvel, por meio da Bahia Specialty Cellulose (BSC), controlada pela chinesa Sateri. “Ao olhar a cadeia, vemos que o Brasil não aproveita a oportunidade de agregar valor à matéria-prima”, ressalta Más.
O investimento potencial, que poderia ser levado a cabo em 10 ou 15 anos, refere-se à construção de capacidade produtiva local de 240 mil toneladas por ano de fibra de viscose, que atenderia à demanda local com excedente para exportação; uma fábrica de 60 mil toneladas por ano de grãos de acetato (hoje importados), para produção local de fibras de acetato; expansão da capacidade instalada desse tipo de fibra em 45 mil toneladas por ano; e, finalmente, fábricas de éteres de celulose, com produção conjunta de 70 mil toneladas anuais.
O relatório, porém, levanta importantes desafios, que poderão orientar a confecção de políticas ou programas de competitividade que tornem o investimento atrativo. Do lado dos custos, destaca Más, esse é um segmento intensivo em energia e é mais interessante estar integrado à produção de celulose do que comprar a matéria-prima no mercado. Além disso, não há escala local de consumo suficiente, o que torna imprescindível o desenvolvimento do mercado externo e de infraestrutura de escoamento da produção.
Fonte: Valor Econômico