A usina de etanol celulósico da Beta Renewables, em Crescentino, na Itália, foi desativada, segundo informações da imprensa local.
A refinaria, orçada em 250 milhões de euros, tem capacidade para produzir 40 mil toneladas anuais de etanol de segunda geração e processar 270 milhões de toneladas de biomassa. Inaugurada em 2011, foi a primeira usina desse tipo no mundo a operar em escala comercial.
A paralisação faz parte da reestruturação financeira por que passa o grupo americano Mossi & Ghisolfi (M&G), responsável pela construção e operação da unidade.
“O tribunal de Alexandria aceitou a inclusão das empresas do Gruppo Mossi Ghisolfi no ‘concordato preventivo’, em conformidade com o Art. 161 § 6º da Lei Falimentar”, diz um informe divulgado pela Beta Renewables em 27 de outubro. A medida é similar à recuperação judicial brasileira.
“São 227 pessoas, entre as quais 121 funcionários da usina de etanol de Crescentino, que deverão permanecer em casa. A unidade de Crescentino tem 60 dias para apresentar um novo plano de sobrevivência. As demais firmas dispõem de 120 dias”, afirma.
Em suma, isso significa que a Beta Renewables tem apenas dois meses para apresentar um plano de reestruturação para as autoridades italianas.
A biorrefinaria de 150 mil m2 foi instalada no fim de 2011, graças a uma parceria entre a Biochemtex, subsidiária da M&G, e o Texas Pacific Group Fund. Em fins de 2012, a Novozymes adquiriu 10% das ações da Beta Renewables.
Em 31 de outubro, a M&G abriu processo de recuperação judicial para 11 empresas de seu portfólio, no distrito de Delaware, com base no ‘Capítulo 11’ do Código Falimentar americano, que permite a reorganização supervisionada pela Justiça.
No total, 50 empregados das unidades de P&D em Tortona e 121 empregados da biorrefinaria de Crescentino receberão recursos do Fundo Estatal Italiano de Intervenção Extraordinária, em decorrência da situação falimentar da M&G.
Serão incluídas na intervenção extraordinária: Mossi & Ghisolfi, M&G Finanziaria, Biochemtex, Beta Renewables, Italian Bio Products, IBP Energia, M&G Polimeri, Acetati Immobiliare. O prazo para apresentar o plano de recuperação da empresa começou a correr em 26 de outubro.
Poucos acreditavam que o projeto Crescentino sairia do papel. Transcorreram muitos anos de ceticismo até que a empresa-mãe da Beta, a Chemtex (ela própria uma subsidiária da M&G, uma das maiores fabricantes mundiais de PET para fibras sintéticas e garrafas plásticas) decidisse dar início ao projeto com recursos próprios.
A primeira coisa que se nota na usina de etanol celulósico da Beta Renewables em Crescentino é o tamanho e o escopo das instalações. Após a longa era dos biocombustíveis celulósicos “para daqui a cinco anos”, com sistemas instalados em bancadas ou pequenos barracões piloto, o projeto com capacidade para 75 milhões de litros, visto ao vivo e a cores, lembra antes o foguete Saturno V. Em comparação, os foguetes Titan do Projeto Gemini e Atlas do Projeto Mercury ficam parecendo maquetes de fundo de quintal.
Em 2008, o faturamento do grupo M&G com vendas alcançou quase US$ 2,6 bilhões. A empresa, considera uma líder tecnológica, possui unidades fabris no Brasil, na Itália, no México e nos Estados Unidos, além de três unidades de P&D em Rivalta (Itália), Sharon Center (EUA) e Poços de Caldas (Brasil).
Dentro do grupo, a Chemtex é uma fornecedora de soluções integradas para projetos que atua com tecnologias de ponta (de patente própria e licenciadas), desenvolvimento de tecnologia (unidades de P&D nos EUA e Itália) e uma gama completa de gestão de projetos, engenharia, strategic sourcing e serviços de construção, com clientes em todo o mundo.
Por sua vez, a Beta Renewables – uma subsidiária da Chemtex e do Grupo M&G – desenvolveu e implementou uma tecnologia de baixo custo para biocombustíveis celulósicos conhecida como Proesa. A Chemtex emprega aproximadamente mil funcionários, distribuídos estrategicamente pelo planeta: Tortona e Rivalta na Itália; Wilmington (Carolina do Norte) e Sharon Center (Ohio) nos EUA; Xangai e Pequim na China; Bombaim, Bangalore e Baroda na Índia.
A empresa já havia sofrido um abalo em março de 2015 com a notícia da morte de Guido Ghisolfi, 58 anos, CEO da Beta Renewables, ao que tudo indica em um caso de suicídio. O carismático empresário foi encontrado em seu Lexus escuro, último modelo, à margem de uma rodovia, a menos de cinco quilômetros das instalações da empresa em Tortona, morto por um disparo à queima-roupa.
Na época, o Grupo Mossi Ghisolfi emitiu a seguinte nota: “Ele sofria de depressão aguda e, ontem, isso culminou no seu falecimento próximo à casa em que residia em Tortona, norte da Itália. A família e os gestores do Grupo Mossi & Ghisolfi desejam expressar seus mais profundos pêsames. Guido Ghisolfi era um empreendedor italiano singular, de enorme competência, perseverança e intuição. Ao lado do pai Vittorio e do irmão Marco, ele conseguiu transformar o grupo numa organização global. O Grupo Mossi & Ghisolfi é hoje um dos líderes mundiais tanto no setor de plásticos como no de químicos derivados de fontes renováveis, sendo que neste último, em particular, Guido Ghisolfi deu mostras de extraordinária inspiração, coragem e dedicação”.