São Paulo – Na Copa do Mundo, uma editora de livros tomou um susto quando teve de dar 70% de desconto em seus produtos, depois de anunciar 10% para cada gol da Alemanha. Todos ficamos surpresos. Mas e se, ao invés de perder para os alemães, tivéssemos perdido para Ruanda?
É essa a realidade do Ranking Global do Empreendedorismo, lançado no final de 2014. Entre 130 países analisados, estamos na 100ª colocação, atrás de Ruanda, Irã, República Dominicana, entre outros. Os líderes do ranking geral são Estados Unidos, Canadá, Austrália, Reino Unido e Suécia.
Mas por que isso acontece se o Brasil é “um dos países mais empreendedores do mundo”?
De fato, há muita gente querendo abrir o próprio negócio no país, e isso é ótimo! Se por um lado o Brasil tem uma das culturas mais empreendedoras do mundo (3 em cada 4 brasileiros prefeririam empreender), por outro sabemos que muitos desistem no caminho.
E entre aqueles que vão em frente e abrem uma empresa, poucos têm sonhos grandes: só 11% dos novos empreendedores planejam contratar mais de 5 funcionários nos próximos 5 anos (no Chile são 43%).
Se juntarmos todos os indicadores que explicam o potencial de crescimento das empresas (e o estudo faz isso), o Brasil está ainda pior, na 129ª colocação — de 130 países. Parece pouco para a 8ª maior economia do mundo.
Não é “só” sonho grande que falta por aqui: entre os fatores que nos põe ladeira abaixo está a baixa inovação entre as empresas brasileiras. Preocupa especialmente o fato de, segundo o estudo, apenas 22% dos novos empreendedores brasileiros considerarem seu produto inovador, número entre as piores taxas do mundo, próximo a Irã e Jamaica, e muito atrás do Chile (89%), primeiro colocado, e China (61%), décima.
A falta de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento também atrapalha, que é pouco mais de 1% do PIB brasileiro e alcança mais de 4% na Coreia do Sul, quase 2% na China e 2,7% nos Estados Unidos.
Nesse sentido, o próprio estudo recomenda que o Brasil, caso queira avançar no desenvolvimento do empreendedorismo local, invista mais de 80% dos esforços no fomento à inovação, focando no desenvolvimento de novos produtos e serviços, transferência de tecnologia e internacionalização de empresas.
Mas, além desses, o relatório revela uma preocupação com as instituições nacionais, algo evidente nos jornais que relatam diariamente casos de corrupção espalhados pela política do país: “o Brasil apresenta um sistema de governança e instituições públicas e econômicas consideravelmente fracas, se comparado às do Chile, por exemplo”.
O Brasil faz muito bem em comemorar o fato de ser considerado “um dos países mais empreendedores do mundo”, e é justamente por isso que podemos (e devemos) incentivar nossos empreendedores a terem sonhos grandes, muito maiore. Ao mesmo tempo, precisamos de um ambiente de negócios melhor, com mais investimentos e atenção à inovação, e que, através dela, incentive o crescimento das empresas.
Fonte: EXAME