As cotações do açúcar vêm oscilando em torno do menor patamar dos últimos três anos. O motivo: empresas do ramo alimentício reduziram seu uso, recorrendo a outros tipos de adoçante depois que o público passou a se preocupar mais com problemas como diabetes, obesidade e doenças coronárias.
Abriu-se com isso a possibilidade de uma redução na demanda de açúcar no longo prazo, muito embora os principais países produtores estejam registrando volumes recordes de produção. A trajetória de queda contrasta com a tendência de outras commodities agrícolas, como o milho e o trigo, cujas sobreofertas vêm sendo aliviadas pela previsão de safras ruins na Europa e na Ásia em decorrência das ondas de calor que assolam a região.
As cotações futuras do milho subiram 2% e as do trigo 28%, enquanto que as do açúcar não-refinado já caíram 30,5% no ano, chegando a 10,54 cents/libra na bolsa de futuros ICE. No momento, o açúcar apresenta a pior performance anual entre todas as commodities. Dois em cada três especuladores apostam na continuidade da queda.
O pronunciado declínio se dá de formas distintas ao redor do mundo. Os consumidores devem ser beneficiados na Europa, onde a cotação tende a seguir as tendências do mercado mundial, e em partes do Oriente Médio e no Canadá, onde o produto é importado pelo valor da cotação global.
Já em Estados Unidos, Japão e China isso não deve ocorrer. Nesses países existem programas de subsídio à produção local, o que resulta em preços mais caros para o consumidor.
Quem deve perder são os grandes países produtores, como o Brasil. Aqui, segundo analistas, o açúcar está sendo comercializado a valores abaixo do custo de produção.
A trajetória negativa do açúcar chama a atenção especialmente quando se leva em conta o bom desempenho das demais commodities.
“No momento o açúcar dá sinais de um movimento em relação à demanda bem diverso do constatado em praticamente todos os demais mercados”, diz Adam Sarhan, CEO da 50 Park Investments. Ele acredita que a cotação do produto deve continuar a cair.
O impacto na demanda está diretamente relacionado a uma mudança de hábito dos consumidores. Eles vêm abandonando as bebidas açucaradas em prol de chás gelados sem açúcar e águas gaseificadas com sabor, o que tem levado os fabricantes de bebidas a alterar suas prioridades.
Nos Estados Unidos houve uma queda da ordem de US$ 1,2 bilhão na venda de refrigerantes nos últimos cinco anos, segundo o Susquehanna Financial Group, ao passo que as vendas de água com gás tiveram um incremento de US$ 1,4 bilhão, de acordo com pesquisas de mercado conduzidas pela firma especializada IRI.
Na tentativa de melhorar seus números, a Coca-Cola, pela primeira vez na história, lançou novos sabores da linha Diet Coke. No último trimestre, a empresa registrou um crescimento de dois dígitos nas vendas da Coca-Cola Zero Sugar, enquanto as do refrigerante convencional cresceram 3%.
Na Espanha, a Pepsi afirma ter cortado em 29% o teor de açúcar de seus produtos em comparação com 2006. A meta agora é que dois terços das bebidas da marca contenham menos de 100 calorias.
A Südzucker, maior fabricante de açúcar da Europa, associou-se no mês passado com a DouxMatok, de Tel Aviv, para colocar no mercado um produto que intensifica o sabor da sacarose. Segundo a empresa, essa tecnologia irá propiciar uma redução de até 40% no teor de açúcar de vários de seus produtos sem que os clientes notem a diferença.
“Há anos que o consumo na Europa e nos Estados Unidos está estagnado, e é pouco provável que esse quadro mude, dada a proliferação de outros tipos de adoçantes”, diz Judith Ganes Chase, presidente da firma de pesquisas em commodities J. Ganes Consulting, de Nova York.
Embora isso aponte potencialmente para uma reviravolta histórica na curva de demanda do açúcar, a oferta do produto vem aumentando.
Em seu relatório mensal de julho, a Organização Internacional do Açúcar divulgou que espera uma sobreoferta recorde do produto este ano, seguida por outro quadro de sobreoferta no ano que vem, o que indica um longo período para que os estoques sobressalentes sejam liquidados. A consultoria Green Pool Commodity Specialists projeta uma sobreoferta de 19 milhões de toneladas para 2018, a maior já registrada; a INTL FCStone, firma de corretagem, informou que a sobreoferta deste ano já compensou por dois anos de produção aquém do consumo.
Os produtores, por sua vez, não aliviam o pé. Na Índia, os donos de canaviais estão expandindo a área de cultivo depois que uma série de medidas foram adotadas com o intuito de ampliar as exportações da commodity. Isto apesar de o país, segundo maior produtor mundial, ter posto no mercado 6,5 milhões de toneladas de açúcar a mais do que o costumeiro no ano fiscal que se encerra em 30 de setembro.
Julie Wernau – The Wall Street Journal
Tradução e adaptação novaCana.com