As bolsas de valores globais têm firme alta, enquanto o euro cai e as moedas de risco se valorizam nesta quinta-feira, na esteira da histórica decisão do Banco Central Europeu (BCE) de embarcar num programa de compra de ativos que deve injetar na economia pelo menos 1,14 trilhão de euros – o chamado afrouxamento monetário, QE em inglês.
O volume total não chegou a surpreender, mas o BCE afirmou que o programa durará “pelo menos” até setembro de 2016, o que alimentou expectativas de que o “QE” possa durar ainda mais tempo. Além disso, o fim do “spread” entre a taxa de juros para acessar empréstimos baratos (LTROs) e a taxa básica de financiamento da zona do euro, a possibilidade de compra de bônus da Grécia e o tom assertivo do presidente do BCE, Mario Draghi, ao falar da urgência das medidas animaram os investidores.
Sobre as novas medidas, Draghi explicou que o BCE não comprará mais de 25% de cada emissão, e não mais de 33% de cada emissor, no programa anunciado hoje. Na opinião do dirigente, “grande parte” do conselho do BCE achou que era o momento de agir. “A maioria foi tão ampla que não foi preciso votar”, disse ele, havendo consenso sobre a partilha de risco.
Como resultado, o euro caiu à mínima em 11 anos frente ao dólar, a US$ 1,1441. O índice Stoxx 600 das principais ações europeias bateu uma nova máxima em sete anos – acima de 364 pontos –, e os rendimentos dos títulos soberanos de Espanha, Itália e França caíram a novos pisos históricos.
No Brasil, a perspectiva de que parte do dinheiro a ser despejado pelo BCE migre para o mercado local derruba o dólar ao menor patamar em sete semanas. O real lidera os ganhos frente ao dólar hoje, considerando uma lista de 34 principais pares da moeda americana. O movimento no câmbio é influenciado ainda pela perspectiva de mais altas de juros pelo Banco Central, conforme sinalizado ontem no comunicado que acompanhou a decisão do Copom. Por isso, os DIs negociados na BM&F oscilam em torno da estabilidade.
Às 14h19, o dólar comercial caía 1,75%, a R$ 2,5607. Na mínima, a cotação foi a R$ 2,5497, piso desde 1º de dezembro de 2014 (R$ 2,5441).
Juros
Além da decisão do BCE, o mercado de juros local teve de digerir o resultado da reunião do Copom de ontem, especificamente o tom lacônico do comunicado. Logo na abertura do dia, os juros futuros chegaram a cair, tanto na parte mais curta da curva quanto nos contratos de prazo mais longo. Esse comportamento mostra que o mercado ainda não firmou um consenso em torno da manutenção do ritmo de aperto monetário em março. Ou seja, ainda há uma divisão entre uma alta de 0,25 ponto e 0,50 ponto na curva, contrariando a expectativa de muitos profissionais.
O comunicado lacônico, o Banco Central evitou assumir compromissos com os próximos passos. Isso foi entendido como uma indicação de que nada muda.
O mercado de juros digeriu, mas sem expressar reação forte, à decisão do BCE de expandir seu programa de estímulos. Mas operadores afirmam que a curva a termo já vinha se ajustando a essa notícia. E também à onda de redução de juros que se vê no mundo. Hoje, o Banco Central da Dinamarca voltou a cortar sua taxa de juros, de -0,25% para -0,35%. Ontem, o Banco Central do Canadá surpreendeu ao cortar seu juro básico em 0,75 ponto. Na semana passada, o BC do Egito e da Índia também contrariam as expectativas ao reduzir o juro básico, enquanto a Suíça tornou seu juro ainda mais negativo, com foco em uma mudança de sua política cambial. “É um mundo de juros para baixo e isso tem muito efeito sobre as expectativas”, disse um especialista.
Na BM&F, DI janeiro/2017 era negociado a 12,34% (12,33% ontem). DI janeiro/2021 osclava de 11,74% para 11,76%. DI janeiro/2016 tinha taxa de 12,67%, de 12,62%.
Bolsa
Apesar do aperto monetário doméstico, o que teoricamente é desfavorável para o mercado de ações, os investidores avaliaram a medida como mais um passo em ganho de credibilidade pelo governo no ajuste das contas nacionais. Por isso, o Ibovespa ficou livre para seguir seus pares internacionais na onda de euforia. Às 14h19, avançava 0,74%, para 49.587 pontos.
Entre os destaques, as ações PN da Oi registram um forte ganho de 12,04%. Faltando poucas horas para assembleia geral de acionistas em Lisboa, que vai decidir a venda dos ativos da Oi em Portugal ao grupo francês Altice, a perspectiva é de aprovação do acordo.
Petrobras também tem boa performance e segue Oi nos destaques do Ibovespa. Petrobras PN sobe 2,24% e a ON avança 2,22%.
Os ativos da estatal vêm se recuperando nos últimos dias das fortes quedas registradas anteriormente. Enquanto a perda acumulada dos ativos preferenciais em um ano totaliza cerca de 32%, neste mês as ações acumulam queda de 1,94%. O preço do petróleo no exterior sobe e ajuda os papéis.
Nos mercados internacionais, por volta das 14h, o índice FTSE-100, da Bolsa de Londres, subia 1,15%, enquanto em Paris, o CAC-40, avançava 1,78% e o DAX, de Frankfurt registrava um ganho de 1,38%.
Em Nova York, por volta das 14h10 (de Brasília), o índice Dow Jones subia 0,64%, o Nasdaq avançava 0,78% e o S&P 500 tinha alta de 0,68%.
Fonte: Valor Econômico | Por José de Castro, Lucinda Pinto, Aline Cury Zampieri e Gabriel Bueno