Mesmo com câmbio favorável, setor não irá se expandir de maneira generalizada, dizem especialistas; vendas externas de tecnologia e publicidade são destaques
São Paulo – A exportação brasileira de serviços vem crescendo em áreas específicas. No entanto, especialistas não esperam um crescimento generalizado das vendas externas do setor, mesmo com o câmbio favorável.
O gestor de projetos da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), Igor Brandão, conta que dois segmentos estão se destacando no mercado internacional: tecnologia da informação (TI) e publicidade e propaganda. No ano passado, as exportações de softwares e serviços de TI, dos projetos apoiados pela Apex, somaram US$ 594 milhões, crescimento de 12% em relação a 2013.
Já o comércio externo de publicidade saltou de US$ 11 milhões, em 2011, para US$ 24 milhões em 2013. Os dados de 2014 ainda não foram consolidados, informa a Apex.
Outras frentes trabalhadas em exportação de serviços pela agência de investimentos são os segmentos de franquia, arquitetura, design, produção de TV e cinema, música, jogos eletrônicos, licenciamento (marcas e personagens) e direitos autorais (livros), conta o gestor.
Brandão diz que está positivo com a inserção dos serviços brasileiros no mercado internacional e afirma que a valorização do dólar frente ao real fez aumentar o número de empresas interessadas em exportar. “A internacionalização é um bom remédio anticíclico. Quando a empresa ganha competitividade com exportação consegue passar com mais facilidade por momentos econômicos difíceis”, considera.
No entanto, os serviços encontram algumas dificuldades para exportar hoje do Brasil. “Como se tratam, em sua maioria, de micro e pequenas, as empresas têm dificuldades de financiamento e de fluxo de caixa para conseguir segurar um processo de negociação”, diz Brandão.
“Outro desafio é que, no caso de serviços, o processo de negociação passa a ser mais longo, já que o cliente, no exterior, quer ter certeza da qualidade do produto. Contudo, conseguir fazer uma venda significa ter um contrato de um ou dois anos”, acrescenta.
O head criativo da produtora de conteúdo Losbragas, Felipe Braga, confirma que a conquista do mercado externo é mais demorado. “Não tem como chegar com um catálogo em um outro país e achar que, da noite para o dia, ele será aceito”, diz Braga, ressaltando que esse processo é mais difícil no caso da produção audiovisual brasileira. “Quando se trata de indústria criativa, o Brasil ainda é muito regional. Em grande parte, as produções nacionais não trabalham com personagens que possuem caráter universal”, afirma. “A TV Globo, por exemplo, até exporta as suas novelas. Mas não vende formato, roteiro nem conceitos”, acrescenta Felipe Braga, que também é diretor do filme Latitudes.
Cadeias globais
O professor de economia da Universidade de Brasília (UNB), Jorge Arbache, avalia que, nos próximos anos, as exportações de serviços pelo Brasil devem crescer de forma setorizada. Ele cita dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que estimam que, até 2025, esse segmento irá representar 75% de todo o comércio mundial. Hoje esses correspondem a 25%.
Por isso, Arbache defende que o Brasil coloque mais foco nesse segmento, principalmente nos serviços que servem como insumos para as indústrias, como softwares para celulares, por exemplo. Ou outros, como consultorias de engenharia, que permitem inserção nas cadeias globais de valor.
“O Brasil foca mais na exportação de produtos finais, como jogos eletrônicos. Claro que esse tipo de segmento é muito promissor. Mas quando olhamos para o futuro, a tendência é de crescimento de serviços que agregam valor e que diferenciam os produtos. Esses serão mais relevantes para a geração de emprego e de riqueza nos próximos anos”, avalia o professor de economia da UNB.
“Conhecendo a produtividade das nossas pequenas e médias empresas, é difícil de acreditar que o Brasil vai conseguir ter grande competitividade no mercado internacional. Isso poderá acontecer em nichos, mas esperar que venha a acontecer como regra não me parece muito coerente”, conclui.
Incentivos
Para o professor da UNB, o fato de o Brasil não criar políticas públicas que integrem diversos setores da economia impede o desenvolvimento da competitividade no comércio exterior.
“As nossas políticas de desenvolvimento não são de integração. Os serviços ainda são pensados de forma muito isolada da indústria. Isso é um erro. Assim como é um erro pensar em uma política de desenvolvimento dos serviços separada de um plano mais amplo de desenvolvimento econômico”, diz Arbache. “Além disso, é necessário ter um conjunto de medidas que promovam acesso das empresas à tecnologia avançada, capacitação de pessoas, e de acesso ao crédito”, complementa o professor.
Autor: Paula Salati
Fonte: DCI – Diário Comércio, Indústria & Serviços
Retirado de: Brazil Pharma Solutions