Logo após a solenidade de transmissão de cargo, no dia 7 de janeiro, em Brasília, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, concedeu uma entrevista coletiva. Leia os principais trechos da entrevista:
Agenda de competitividade
“A agenda de competitividade é uma nova-velha agenda. Os temas são, de certo modo recorrentes. A diferença é que estamos diante de um outro cenário. Houve um tempo em que o Brasil pôde se dar ao luxo de postergar esta agenda. Agora, temos problemas de desequilíbrio nas contas externas, um déficit em conta corrente que se aproxima de 4% e, neste momento, também temos um déficit na balança comercial brasileira. Isto significa que, ou fazemos uma aposta firme nas exportações, na ampliação do comércio, ou nós teremos condições cada vez mais desafiadoras. Acho que a exportação, o comércio exterior é uma prioridade irrecusável”.
Balança Comercial
“Vamos ter um resultado melhor na conta petróleo. Quero lembrar que neste resultado de 2014 só a conta petróleo gerou um déficit pro Brasil de US$ 16 bilhões. Em 2013, o déficit foi de US$ 20 bilhões. Nesta conta vamos ter seguramente um resultado muito menos desfavorável ao Brasil em função do efeito de preço. Outro elemento é que a safra agrícola que será maior, e a produção de minérios também. Assim, o volume físico de exportação tende a crescer compensando este efeito de perda de receita pela queda dos preços”.
Câmbio e Estados Unidos
“Considero que temos razões para acreditar que vamos ter um melhor desempenho este ano. O câmbio está ajudando mais. E temos uma oportunidade com a retomada da economia norte-americana. Acho que o Brasil pode ampliar muito o seu relacionamento com os EUA e outros mercados, portanto, acho que há uma possibilidade de, nesta agenda, encontrar o caminho para viabilizarmos um grande programa de exportação, com metas mobilizadoras e com instrumentos que permitam que tenhamos esta ambição.
Evidentemente que há pontos nesta agenda de maior sensibilidade, em face das restrições do momento. A questão fiscal dá menor espaço, sem dúvida. Mas temos instrumentos como o Reintegra, que se destina a compensar este resíduo tributário que ainda onera as exportações, sobretudo nas cadeias mais longas. Tenho também a percepção de que a taxa de câmbio vai ser um elemento importante dentro desta estratégia. Nós ainda temos uma apreciação cambial, sobretudo considerando o câmbio real. O câmbio hoje já nos oferece condições melhores que há um ano atrás.”
Política Comercial
“Fazendo uma avaliação da estratégia da política comercial brasileira, houve uma ênfase muito grande na consolidação de poder construir toda a arquitetura do Mercosul e, nos primeiros anos, nossa corrente de comércio, nossas exportações para o bloco, se ampliaram de forma muito expressiva. Na América do Sul, o Brasil teve possibilidade, por exemplo, de incrementar as exportações de forma muito significativa com a Venezuela, gerando superávits robustos. Os governos têm que responder às demandas e às circunstâncias a em cada momento. Eu diria que nós estamos diante de um momento diferente, e este quadro mudou muito rapidamente.”
Mercosul e parceiros comerciais
“O Mercosul é uma construção complexa, na medida em que existem assimetrias dentro do bloco. Não há coordenação macroeconômica entre os países com diferentes realidades econômicas e políticas. É desafiador construir uma união aduaneira nesta realidade. Mas este é um ativo que nós construímos ao longo do tempo. Não temos como deixar de investir neste ativo. Agora, a realidade se impõe. Temos que nos integrar a outros blocos, a outras correntes de comércio. Por exemplo, entre os países da bacia do Pacífico (México, Chile, Colômbia, Peru), há oportunidades que o Brasil pode aproveitar. A revalorização desta parceria com os Estados Unidos é uma outra questão muito importante. E o acordo Mercosul-União Europeia que há tempo tenta-se concluir, acho possível, a partir de ofertas que estão sendo definidas, fechar isto. A minha visão é que a política comercial tem que considerar esta realidade nova e dar respostas a esta realidade.”
(MDIC)
Fonte: ANPEI