Trabalho de brasileiro é o primeiro no mundo sobre adaptação do ensino da Química Verde para estudantes surdos
A Química Verde é um conceito relativamente novo. Foi definido pela primeira vez, em 1991, por membros da agência ambiental norte-americana Environmental Protection Agency (EPA). Diz respeito ao uso da Química na redução da poluição ambiental. Se entender o que é Química Verde ainda não está ao alcance de muitos, imagine como pessoas com deficiência auditiva podem ter dificuldade de estudar este ramo da Ciência.
Foi pensando nisso que o Químico Carlos Alberto da Silva Júnior decidiu estudar o assunto em seu trabalho da graduação. Ele fez uma pesquisa sobre adaptação de recursos didáticos para surdos no ensino da Química Verde e Sustentável. O estudo foi premiado no evento internacional Green Chemistry Postgraduate Summer School (XII GCPSS), realizado em Veneza, na Itália. De acordo com os organizadores da premiação, o trabalho de Carlos foi o primeiro trabalho sobre Química Verde para surdos do mundo.
A pesquisa se dividiu em duas grandes etapas: sondagem e aplicação de ferramentas didáticas adaptadas. Na sondagem, foi avaliado o conhecimento prévio da turma sobre Química Verde e Sustentável. Em seguida, o grupo de Carlos usou jogos computacionais, estudo de caso, atividades visuais e experimentação, com o estudo dos 12 princípios da Química Verde de forma contextualizada e inclusiva.
“Os resultados obtidos mostraram que houve um impacto positivo no aprendizado de todos os estudantes e que há uma necessidade urgente de se desenvolver mais trabalhos científicos na área, principalmente, no âmbito da inclusão escolar”, explica.
O interesse de compartilhar conhecimento com quem tem condições diferentes de aprendizado foi o que motivou Carlos. “Ainda na graduação em Química no IFPB [Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba], ouvi pela primeira vez o termo Química Verde e ficava insatisfeito em saber que esse tema ainda era pouco estudado em comparação a outros. Quando a oportunidade chegou de se trabalhar mais profundamente essa temática e de forma inclusiva, nós a aproveitamos. Tudo se resume na vontade de compartilhar e ensinar para todos, tanto surdo como ouvinte, o que aprendemos”.
Atualmente, Carlos é doutorando na Unicamp. Ele aponta que o retorno que teve dos alunos surdos quando fez o estudo o incentiva a querer continuar trabalhando com a temática. “É muito mais que facilitar o conteúdo. Quando meus alunos disseram: ‘professor, você me ensinou de uma forma que eu posso ensinar agora até para os meus pais o que é Química Verde’, entendi que precisava continuar”, conta.
Ele destaca que apenas o acesso ao ambiente escolar não é sinônimo de inclusão, já que ela se dá por um processo social. “Há um caminho longo a ser percorrido e o Brasil sai na frente. Planejamos continuar atuando nesta temática sem perder de vista que toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades, como as demais pessoas”.
Fonte: Conselho Federal de Química
Pesquisa sobre Química Verde inclusiva é premiada em evento na Itália