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Mitos e Verdades sobre a economia circular

Como já discutimos anteriormente, a Economia Circular trata de um conceito que busca integrar o desenvolvimento econômico, social e ambiental de modo sustentável e, com isso, o modelo defende a ideia de que ao final de sua vida útil, os produtos naturais ou sintéticos retornem para a natureza ou a cadeia produtiva, causando o menor impacto ambiental possível e de forma a aumentar a efetividade produtiva do processo como um todo. Dessa forma, a popularidade mundial adquirida entre as empresas nos últimos anos tem levado a uma cultura de modismo caracterizada, principalmente, pela aplicação prematura dos conceitos circulares.

Nesse sentido, o que muito ainda se confunde é que este modelo pode se resumir somente à reciclagem e/ou ao reuso. É evidente que estes são fatores importantes para a ligação entre o final e o início da cadeia produtiva e, por isso, não devem ser negligenciados, com o acréscimo que de maneira geral, a gestão de resíduos ainda é caracterizada pela baixa difusão da coleta seletiva e fundamentalmente baseada em um modelo de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis.

Além disso, focar somente naredução de insumos, energia e/ou emissões de poluentes, por exemplo, também não significa estar fazendo economia circular. Estas medidasnão deixam de ser importante para o desenvolvimento sustentável, pois contribuem para a redução dos impactos na natureza etornam os processos mais eficientes. Entretanto, isto não interrompe o fluxo linear dos recursos, continuando a oferecer o consumo desenfreado ao final da cadeia e resultando, na verdade, emuma desaceleração do esgotamento dos insumos.

Nesse sentido, estas etapas e medidas acima citadas do ciclo da economia circular devem ser pensadas de modo a integrar o projeto do produto voltado para a remanufatura, reuso, reciclagem ou compostagem aos stakeholders da cadeia (produtor, distribuidor e consumidor). O arquiteto Walter Stahel, iniciador de uma das escolas de pensamento que deu origem à Economia Circular, a “Economia de Desempenho”, argumenta desde 1976 que fabricar carros, objetos e edifícios mais duradouros e mais fáceis de desmontar, pode criar mais postos de trabalho e, simultaneamente, reduzir o consumo de energia, água e utilização dos recursos. Em 1982, ele criou um centro de pesquisa em conjunto com o economista italiano OrioGiarini em Genebra, o Product-Life Institute, cuja missão da organização é desenvolver modelos de negócios para reutilizar produtos, estender os ciclos de vida dos produtos e evitar o desperdício.”¹.

Alguns exemplos de aplicação efetiva do modelo circular em diversas áreas podem ser citados:
• Na indústria alimentícia, da castanha-do-pará é extraído o óleo, a farinha resultante do processo e a casca é destinada para a adubação da terra e de todo o processo de cultivo orgânico. Contudo, o impacto deste processo vai além da produção e do reaproveitamento, devendo-se atentar à preservação das áreas nas quais os frutos estão localizados para a redução do desmatamento e das emissões de carbono para a atmosfera².
• No setor eletroeletrônico,a empresa de computadores americana Dell, por exemplo, começou um sistema de reciclagem para seus aparelhos eletrônicos³.
• A gigante automobilística Renault⁴ tem atuado no projeto dos veículos conforme materiais e montagem que permitam a remanufatura e reciclagem futura; em novos modelos de negócio, com o esquema de desconto, bônus ou depósito B2B para componentes remanufaturados se o retorno for garantido; e criou uma plataforma experimental para a reciclagem de veículos em fim de vida (ELV), denominada CAR REcycling 95% (ICARRE 95), coletando peças de automóveis usadas (aço, cobre, têxteis e plásticos) e as reutiliza em novas máquinas.
• Em relação à indústria da moda, a gigante do fastfashion sueca, H&M⁴ recicla roupas usadas e utiliza materiais reciclados em suas roupas. Representantes de pequenas e médias empresas de diferentes partes da Europa estão incentivando o “Slowing fashion”, um modelo que prioriza cinco áreas essenciais de intervenção para contornar a aplicação equivocada destes princípios: design para longevidade, design para impactos reduzidos, design para reciclagem, sistemas de fim de vida e modelos de negócios alternativos. Desse modo, não compromete os valores éticos, sociais e ambientais e envolve clientes, em vez de encorajá-los a consumir excessivamente tendências em constante mudança⁵.

Assim, ser eficiente é o passo inicial para o caminho circular, pois remete a inovações incrementais dos processos industriais e serviços, além de garantir bons resultados no curto prazo. Entretanto,a economia circular requer mudanças disruptivas nos modelos de negócios para o alcance efetivo no longo prazo e, por isso, não significa mudanças em apenas algumas etapas, mas sim no sistema como um todo, constituindo de um modelo holístico.

Referências
1.VIVAGREEN. (2016). Disponível: <https://vivagreen.com.br/blog/como-economia-circular-pode-revolucionar-industria-e-criar-riqueza-atraves-dos-residuos/>. Acessado em: Fev. 2018.

2.ORGANICS NEWS BRASIL. (2018). Disponível:
<https://www.organicsnewsbrasil.com.br/ponto-de-vista/artigos/saiba-como-a-economia-circular-transforma-a-industria-alimenticia/>. Acessado em: Fev. 2018.

3. DELL. Disponível: <http://www.dell.com/learn/br/pt/brcorp1/dell-environment-recycling> . Acessado em: Fev. 2018

4.ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. Disponível em:<www.ellenmacarthurfoundation.org/case-studies>. Acessadoem: Fev. 2018.

5. GREENPEACE.New report breaks the myth of fast fashion’s so-called ‘circular economy’. (2017).
Disponível: <https://www.greenpeace.org/international/press/7517/new-report-breaks-the-myth-of-fast-fashions-so-called-circular-economy-greenpeace/>

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