Fanático por panetone, o empresário Natanael Bittencourt certo dia tomava café da manhã com tanta avidez que já estava raspando a embalagem que envolve o doce. Diante da cena, sua mãe exclamou: “Você vai acabar comendo até o papel!”. Foi o ponto de partida para uma ideia inusitada. “E seu eu pudesse comer a embalagem? E se ela tivesse cor e sabor, seria atrativa?”, questionou-se Bittencourt, dono da panificadora Panure, que fica em Salvador (BA) e fornece para redes de varejo. Ele começou, então, a elaborar o projeto de inovação, juntamente com a equipe do Senai. Cinco meses depois, a proposta foi contemplada no Edital Senai Sesi de Inovação 2011 e promete dar água na boca dos consumidores baianos já no fim do próximo ano.
A pesquisa realizada pela equipe não encontrou qualquer produto semelhante no mercado interno ou externo. Com a novidade, Bittencourt acredita que pode incrementar em 30% as vendas, que hoje são de 100 mil unidades anuais, faturando R$ 200 mil por mês. A embalagem comestível poderá ser usada em diversas linhas panificáveis, como as de bolos, muffins, pães e biscoitos, tanto de fabricação própria como de outras empresas.
A inovação já foi aprovada no primeiro teste com os consumidores. “Produzimos algumas unidades em nossa fábrica e fizemos degustações em uma loja parceira. Foi um sucesso! Principalmente o chocotone com embalagem de menta”, diz o empresário, animado. “Quero colocar gosto e cheiro nas embalagens. Mas ainda estamos discutindo quais serão os sabores”, revela.
O projeto está orçado em R$ 660 mil, com prazo de 20 meses para execução – mas a equipe tem força de vontade para colocar a novidade no mercado antes, em apenas um ano. “Estarei com o produto nas prateleiras no Natal de 2012“, promete Bittencourt.
Insumos naturais
A tecnologia a ser desenvolvida para a produção da embalagem comestível vai tentar obter o máximo de durabilidade para o produto. “Sabemos que existem matérias-primas naturais que podem ser modificadas tecnologicamente para suportarem as etapas do processo de fabricação de produtos panificáveis. Própolis, cravo e pimenta são alguns dos itens com propriedades antioxidante e antimicrobiana para aumentar a vida do produto na prateleira. São conservantes naturais. Precisaremos estudá-los para descobrir em quanto tempo eles aumentam a validade do produto”, explica o coordenador do Núcleo de Pesquisa Aplicada do Senai Dendezeiros/BA, Silmar Baptista Nunes. Ao fim do projeto, o Senai e a Panure vão solicitar o registro de propriedade industrial.
O Senai Dendezeiros conta com uma área de alimentos e bebidas, com núcleo de cereais e derivados, incluindo plantas de processamento. Lá, serão feitos testes laboratoriais para análises físico-química e microbiológica da embalagem comestível. Além de desenvolver produto, o Senai precisará certificar se ele poderá ser comestível e atender aos requisitos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A parceria entre a Panure e o Senai começou antes do projeto da embalagem comestível. A entidade já estava desenvolvendo, no ano passado, uma granola para atender à pequena demanda de clientes da empresa por pães com grãos. Diante do sucesso da experiência, o empresário Natanael Bittencourt resolveu repetir a fórmula, partindo para o segundo projeto com a equipe do Senai.
Nunes, do Senai/BA, destaca que os projetos com maiores chances de sucesso são aqueles que começam a ser desenvolvidos antes do edital, a exemplo da Panure. Por isso, a equipe técnica do Senai fica à disposição das empresas durante todo o ano, preparando-as para o Edital Senai Sesi de Inovação, que sai anualmente. “Fomentamos a inovação na empresa, escrevemos o projeto e oferecemos suporte para o desenvolvimento. Também acompanhamos a execução do projeto, as finanças e a proteção intelectual”, pontua o coordenador.
A lista completa dos selecionados na 8ª edição do Edital Senai Sesi de Inovação pode ser conferida aqui.
Fonte: Natália Calandrini para Notícias Protec – 29/08/2011 – http://bit.ly/oM5zxz