O crescente consumo de etanol no Brasil está drenando açúcar de um mercado global que está mudando de superávit para déficit.
As usinas do Centro-Sul produziram 11% menos açúcar desde que a atual safra começou em abril na comparação com um ano antes, disse a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Se isso se mantiver, as empresas poderão ser forçadas a começar a usar estoques do adoçante no quarto trimestre, disse Murilo Aguiar, consultor sênior de gerenciamento de risco da INTL FCStone, por telefone.
Enquanto isso, a Datagro, empresa de consultoria sediada em São Paulo, mais do que dobrou sua estimativa para déficit global de açúcar na temporada que começa em outubro, para 6,42 milhões de toneladas. Questões climáticas podem prejudicar a cultura na Índia, Europa, Austrália, Paquistão e Tailândia, disse o presidente da Datagro, Plinio Nastari, em entrevista em 23 de julho.
O aumento na demanda de etanol no Brasil está elevando os preços pagos às usinas, apesar de a safra estar próxima do pico, o que usualmente leva as cotações do biocombustível para baixo em meio a ampla oferta.
“O consumo tem sido grande o suficiente para suportar os preços, apesar de toda oferta das usinas”, disse Tarcilo Rodrigues, diretor de comercialização de etanol da Bioagencia, por telefone. Unidades em situação financeira ruim estão inundando o mercado para ganhar dinheiro, disse ele, enquanto outros grupos estão vendendo para equilibrar seus estoques.
A forte demanda por etanol vem em meio aos altos preços da gasolina nas bombas do país. O preço de varejo do etanol hidratado, o biocombustível 100% usado em carros flexíveis, estava em foi de R$ 2,54 por litro na semana passada em São Paulo, 62% do preço da gasolina, disse a ANP.
Em 22 de julho, o prêmio do etanol hidratado alcançou 2,27 centavos de dólar por libra peso acima do açúcar bruto, em comparação com 0,56 c/lb um ano antes, de acordo com a Datagro.
“Com esse nível de prêmio, vejo os produtores produzindo ainda mais etanol à custa do açúcar”, disse Rodrigues, da Bioagencia. Sua empresa espera que a produção chegue a apenas 25,5 milhões de toneladas do adoçante na atual temporada no Centro-Sul, uma queda de 1 milhão de toneladas em relação ao ano anterior, quando o país produziu o menor volume em mais de década.
Fabiana Batista e Marvin G. Perez