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Brasil, terra onde o etanol de cana é rei, aposta em combustível de milho

As usinas espalhadas pelo coração agrícola do Brasil atestam que o País é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e o rei absoluto do etanol produzido a partir desse cultivo. Mas a dívida enfraqueceu esse setor, o que abriu caminho para que outro biocombustível floresça.

A produção brasileira de etanol à base de milho deve ultrapassar a marca de 1 bilhão de litros pela primeira vez nesta temporada, de acordo com a INTL FCStone. Embora o número seja apenas uma pequena fração do mercado de biocombustível do país sul-americano, de 31 bilhões de litros, a produção deve se expandir rapidamente nos próximos anos em meio a uma onda de investimentos em que mais de uma dúzia de novas usinas estão planejadas.

A aposta no milho surge depois que os agricultores triplicaram a produção do grão no cerrado do Centro-Oeste do País nos últimos dez anos. Isso está oferecendo aos processadores agrícolas, como a Cargill, uma oferta abundante do ingrediente para a fabricação de etanol em um momento em que os preços dos combustíveis fósseis no Brasil chegam aos valores mais altos em vários anos. A nova legislação – chamada RenovaBio – também estipulou metas federais para níveis mais altos de uso de biocombustíveis. Isso deve dar um impulso de 20 bilhões de litros à demanda nacional até o final da próxima década, de acordo com projeções do governo.

A incursão pelo milho também pode gerar uma maior concorrência para a indústria americana de etanol, que extrai a maior parte do biocombustível desse grão. O Brasil é o maior consumidor de etanol do mundo depois dos EUA, em grande parte por causa do amplo uso de carros que podem rodar com o biocombustível ou com a gasolina convencional. Embora a maior parte das necessidades do país sul-americano seja satisfeita com a produção nacional, o Brasil absorve algumas importações, principalmente dos EUA.

A edição 2018 do novaCana Ethanol Conference, que acontece em São Paulo (SP) nos dias 3 e 4 de setembro, terá o painel “Etanol de milho: crescimento e oportunidades”. Clique aqui para acessar a programação completa.

‘O milho mais barato’

“Os produtores de etanol de milho [do Brasil] se tornaram muito competitivos”, disse Ricardo Tomczyk, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem). Os preços do grão no Mato Grosso, no coração da região onde as novas usinas estão sendo desenvolvidas, tiveram média de US$ 1,87 o bushel neste ano. O valor está bem abaixo da média de US$ 3,30 em Iowa, principal estado produtor de milho dos EUA, um reflexo dos diferentes custos de produção e logística. “Temos o milho mais barato do mundo”, disse Tomczyk.

A produção de etanol de milho pode superar 3 bilhões de litros em cinco anos e tem o potencial de chegar a 8 bilhões de litros até 2030, estima Tomczyk. Isso seria suficiente para que o incipiente setor abocanhe cerca de 40 por cento do aumento projetado para a demanda nacional no período, segundo dados do governo.

O etanol à base de milho provavelmente será enviado principalmente para os estados do centro e do norte do Brasil, destinos comuns das exportações dos EUA, disse Tomczyk. O Brasil importou 1,7 bilhão de litros de etanol dos EUA na temporada 2017/2018.

Mesmo com a expansão, a grande maioria do etanol brasileiro provavelmente continuará sendo feita por usinas de cana-de-açúcar no futuro previsível. Esses processadores costumam ser mais eficientes e emitem menos dióxido de carbono. Eles também podem produzir mais litros por hectare e gerar sua própria energia com a queima do bagaço, o resíduo da cana que sobra do processo de moagem.

Fabiana Batista e Gerson Freitas Jr.

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