Mais de 500 traders, produtores, corretores, usineiros, exportadores e gerentes de fundos voltados ao açúcar foram a Nova York para a Semana do Açúcar – e foi difícil encontrar algum otimista entre eles.
Durante uma série de reuniões e seminários, de 7 a 9 de maio, todas as projeções apresentadas pelos analistas mostraram que o mercado caminha para o segundo superávit seguido e os dois anos de fartura são quase universalmente aceitos como o maior excedente de todos os tempos.
Com o crescimento fraco do consumo e safras abundantes em todo o mundo, os preços podem estar a caminho do dígito único, alertou um analista.
Os contratos futuros do açúcar bruto já caíram 26 por cento neste ano, maior recuo entre as 34 commodities monitoradas pela Bloomberg. A produção recorde na Índia e na Tailândia está impulsionando o enorme excedente. Os fundos de hedge se preparam para mais perdas e mantiveram apostas em quedas de preços por cinco meses seguidos.
Demanda fraca
A Semana do Açúcar culminou com uma reunião coorganizada pela Organização Internacional do Açúcar (ISO, na sigla em inglês) e pela consultoria Datagro, com sede em São Paulo. No evento, José Orive, diretor-executivo da ISO, alertou para a queda da demanda.
O consumo deverá crescer neste ano ao ritmo mais fraco desde 2000, uma desaceleração “perigosa” que está ampliando o excedente, disse Orive. A mudança nas preferências dos consumidores tem contribuído para a demanda morna, considerando que mais pessoas estão se distanciando do açúcar adicionado e das bebidas açucaradas devido a preocupações com a saúde.
Apostas de fundos
No período de uma semana terminado em 8 de maio, os gerentes de recursos mantinham uma posição vendida líquida de 146.658 futuros e opções, mostraram dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC, na sigla em inglês) na sexta-feira. O número mede a diferença entre as apostas em um declínio de preço e as apostas em uma alta. As posições vendidas totais estão a 3 por cento do recorde atingido em 1º de maio.
Na sexta-feira (11), a ICE encerrou os contratos de açúcar bruto com vencimento em julho a 11,22 centavos de dólar por libra-peso. Os preços, contudo, chegaram a ser cotados a 10,93 centavos de dólar por libra-peso em abril, o maior valor desde setembro de 2015.
Previsão do tempo
É possível que os preços atinjam “dígito único”, disse Claudiu Covrig, analista da Platts Kingsman na Suíça, em entrevista nos bastidores de um evento da Semana do Açúcar. O declínio para esses níveis dependerá das perspectivas climáticas para a América do Sul e do ritmo das exportações da Índia, disse.
Depois que a seca prejudicou a cana-de-açúcar brasileira em março e abril, as plantações terão algum alívio na forma de chuva em meados de maio, disse Graziella Gonçalves, meteorologista da Somar Meteorologia em São Paulo.
O dano causado é irreversível, mas as próximas chuvas podem ajudar a limitar novas perdas, disse Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açúcar.
Última esperança para os otimistas
Com a expansão da oferta, uma coisa que poderia mudar a perspectiva dos preços seria um retorno da seca no Brasil. O prolongamento da recente seca provocaria uma “virada de jogo”, disse Rodrigo Ostanello, gerente da ED&F Man Brasil em São Paulo, em entrevista nos bastidores da Semana do Açúcar.
Enquanto isso, apesar de a seca ter prejudicado a produtividade, também ampliou a oferta imediata porque o clima tem sido ideal para a colheita. Na segunda quinzena de abril, a produção de açúcar da região Centro-Sul do Brasil aumentou 35 por cento em relação ao ano passado, segundo dados da Unica.