As empresas que usam plantas em vez de combustíveis fósseis para fabricar embalagens estão começando a desafiar as ambições da indústria petroleira de aumentar a oferta de matéria-prima para os plásticos.
O uso de bioplástico feito de cana-de-açúcar, madeira e milho crescerá pelo menos 50 por cento nos próximos cinco anos, segundo a European Bioplastics Association em Berlin, entre cujos membros figuram a Cargill e a Mitsubishi Chemical Holings. A Basf, a gigante alemã de produtos químicos, e a fabricante de papel finlandesa Stora Enso entraram no negócio para atender a demanda de nomes como Coca-Cola e Lego.
“Os produtos bioquímicos e o bioplástico poderiam reduzir uma parte da demanda de petróleo, assim como a reciclagem pode diminuir a demanda geral por plástico virgem”, disse Pieterjan Van Uytvanck, consultor sênior da Wood Mackenzie, empresa de pesquisa com foco no setor de petróleo. “Isso se tornará uma fatia maior da oferta”.
As empresas petroleiras fabricam etileno e outros elementos básicos para a fabricação de plástico. Elas vêm considerando esse mercado para crescer, porque os carros elétricos ameaçam diminuir a demanda de gasolina.
Mais plástico do que peixes
A onipresença do plástico nas embalagens deixou o mundo literalmente nadando em garrafas, sacolas e envoltórios. Isto está começando a preocupar os ecologistas e as empresas que mais usam esses produtos. Haverá mais plástico do que peixes nos oceanos do mundo até 2050, segundo a Ellen MacArthur Foundation, e esses materiais estão entrando na cadeia alimentar.
O bioplástico representa atualmente cerca de 1 por cento do mercado de plásticos, segundo a organização do setor na Europa. Alguns dos maiores produtores são a Braskem, a NatureWorks, nos Estados Unidos, e a Novamont, da Itália.
“Os comportamentos estão evoluindo”, disse David Eyton, diretor de tecnologia da BP. “A pergunta que a indústria petroquímica tem que responder é: ‘Como as pessoas resolverão alguns dos impactos ambientais dos produtos petroquímicos? Particularmente dos plásticos, que são uma preocupação cada vez maior'”.
Competitividade
A Agência Internacional de Energia projeta que o crescimento do mercado de plásticos aumentará a demanda de petróleo. É preciso cerca de 8,5 barris de nafta, um derivado do petróleo, para produzir uma tonelada de etileno, quantidade necessária para fabricar 160.000 sacolas de plástico, segundo cálculos da Bloomberg Intelligence.
“Os produtos petroquímicos terão um papel preponderante na demanda de petróleo”, disse Tae-Yoon Kim, analista da AIE. “Por isso muitas grandes petroleiras estão focando na petroquímica”.
“As matérias-primas alternativas devem ser competitivas”, disse Seppo Parvi, diretor financeiro da Stora Enso, em entrevista de Londres, antecipando uma paridade de preços com o plástico feito com petróleo bruto. “Tenho certeza de que vamos conseguir isso”.