Em uma escala menor, temos culturalmente objetos pessoais não mais utilizados repassados para um familiar, doação ou customização. Ampliando um pouco mais, por que não ter uma realidade onde pudéssemos reparar somente as peças defeituosas de um aparelho, onde pudessem ser remanufaturadas ou recicladas paraa fabricação de um novo aparelho? Por que não aumentar a escala desse sistema para bens de consumo de longa duração, equipamentos nas fábricas, formando um grande ciclo? O quanto de desperdícios em aterros sanitários, de água e energia, emissão de gases estufas, poderiam ser evitados?
Uma boa notícia é que algumas ações já começaram a se tonar realidade. Recentemente, aempresa holandesa de telefones celulares, Fairphone, lançou um modelo modular cujas peças podem ser desmontadas e reparadas isoladamente, porém só é comercializado na Europa. A startup brasileira, Mig Jeans, recolhe jeans usado por meio de doações e customiza para revender. Além disso, quem doa tem direito a desconto na próxima peça. A produtora de água mineral Costa Rica inovou no desenho das garrafas PET, que são encaixáveis e podem ser reutilizadas como telha, garantindo alta capacidade isolante. Pode-se perceber que algumas companhias já começaram a transição, entretanto há muitos desafios ainda há ultrapassar.
Não é recente, nem informação privilegiada,a gravidade dos problemas ambientais que acometem principalmente aos países mais pobres. Em 1987, o Relatório de Brundtland², publicado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da ONU,formalizou o conceito de sustentabilidade, tendo como principal meta satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer as gerações futuras. Passados 30 anos da publicação deste Relatório, o modelo de produção linear somado à cultura do consumismo que o alimenta, continua gerando mais desperdícios de matérias-primas, de alimentos, de eletrônicos, mais crise econômica, mais pobreza e assim por diante.
É fato inegável que é preciso mudar esse cenário e, para isso, a economia circular se apresenta como um modelo de produção disruptivo. Para alcançar a integração da sustentabilidade ambiental, econômica e social serão necessárias mudanças radicais de comportamento da sociedade, dos modelos de negócios e, principalmente, na gestão pública.
Agora, o que a química tem a ver com isso? Como o próprio nome deste blog diz, a química é circular. A indústria química com todo o seu potencial pode ser impactada e/ou impactar novos processos e produtos, sendo um catalisador para o advento da economia circular. Isso, entretanto, será assunto para o próximo artigo juntamente coma tabela periódica circular proposta pelo pesquisador da Microsoft, MohdAbubakr, e pelo professor da Universidade de Oxford, Philip Stewart, da qual inspirou nosso logo.
Referências bibliográficas:
1. http://www.atlas.d-waste.com/
2. ELLEN MACARTHUR FOUNDATION. Rumo à Economia Circular: O Racional de Negócio para Acelerar a Transição, 2015. Disponível em: <https://www.ellenmacarthurfoundation.org/assets/downloads/Rumo-a%CC%80-economia-circular_Updated_08-12-15.pdf>.