A participação do setor privado no total de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil está estagnada desde 2000. Cálculos do economista e presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, e diretor no país do International Growth Center (London School of Economics e Oxford University), Cláudio R. Frischtak, atestam que, atualmente, em torno de 45% dos recursos voltados para P&D são originados do setor empresarial – percentual praticamente idêntico ao observado na virada do século XXI. Com cerca de 54% de participação, governo e instituições de ensino ainda detêm a maior parcela entre os que investem em P&D no país.
Na prática, mesmo com aumento no número de políticas públicas de incentivo às empresas nesse sentido, ainda é caro investir em inovação no Brasil, avaliou o especialista, em entrevista ao Valor. Ao mesmo tempo, as companhias ainda se mantêm “isoladas” em relação às novidades em desenvolvimento nas universidades, e em outros países, na análise de Frischtak. Isso impede a formulação de parcerias que poderiam contribuir para um avanço maior na fatia das empresas brasileiras em pesquisa e desenvolvimento, diz ele.
As informações constam do estudo “Brasil: Decifrando o Paradoxo da Inovação” a ser apresentado no segundo dia do XXVI Fórum Nacional, do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), que começa hoje e vai até o dia 14 de maio. Pela primeira vez em 26 anos, o evento não será realizado no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e sim no prédio da Caixa Cultural, no centro do Rio. A ideia central do evento, segundo disse ao Valor o ex-ministro do Planejamento (governos Médici e Geisel) João Paulo dos Reis Velloso, superintendente-geral do Inae, será discutir o atraso brasileiro em conduzir as reformas estruturais. A ausência de reformas, diz Velloso, estaria levando a economia brasileira a um ciclo vicioso de baixas taxas de crescimento nos últimos anos.
Feito em parceria com a pesquisadora Katharina Davies, o estudo de Frischtak analisou a evolução dos recursos alocados para P& D e detalhou os obstáculos que impedem o avanço da inovação no país.
Para o levantamento, os técnicos usaram dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), Pesquisa de Inovação (Pintec) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e Ministério da Ciência e Tecnologia.
A partir dos dados, os especialistas calcularam que o total de investimentos em P&D no Brasil saltou de US$ 12,4 bilhões para US$ 27, 6 bilhões entre 2000 e 2011, em dólares correntes de Paridade de Poder de Compra (PPC) – medida que gera estimativas de preços de produtos, nos países, e compara com os mesmos produtos em dólar, nos Estados Unidos – que é a referência. Os dados mais recentes sobre origem de recursos para inovação, no mercado brasileiro, têm 2011 como ano de referência, mas foram anunciados no final de 2013. O uso do PPC foi necessário para comparar esse montante brasileiro ao que é alocado, em pesquisa e desenvolvimento, em outros países.
Ao mesmo tempo em que permanece inalterada, a participação das empresas na alocação de recursos em pesquisa e desenvolvimento é quase a metade do que é observado em outras economias em desenvolvimento, de acordo com os pesquisadores. “Na China e na Coreia do Sul essa proporção se aproxima de 80%. Em Israel, chega a 84,5%”, acrescentou ele.
Um dos aspectos que contribuem para elevar os custos de se investir em inovação no Brasil são as dificuldades para acessar recursos materiais e humanos necessários para implementar projetos inovadores, avaliou o pesquisador. Essas dificuldades são provocadas por barreiras legais e burocráticas, completou Frischtak. “Para pesquisas em biodiversidade, por exemplo, a legislação é muito restritiva. E há o problema de falta de engenheiros”, disse, acrescentando que profissionais estrangeiros, qualificados, poderiam ser usados para suprir esse ausência – mas não conseguem vistos de trabalho no País.
Fonte: Valor Econômico